Eu já tive um blog

Mikaela.
2 min readMar 24, 2020

Eu tive um blog, com vários textos e vários pensamentos. Era quase um diário, escrito de uma forma super particular, refleti bastante e vi que era também uma forma de pedir atenção.

Recebi um dos textos, que escrevi há uns 10 anos, e senti uma leve vergonha, seguida de uma vontade de conversar com aquela menina e dar uns conselhos sobre amor próprio, planos e projetos. Eu não pensava em futuro, eu não acreditava em nada do que eu fazia, eu mal me conhecia! Não conseguia me olhar, me projetar… Era uma espécie de ancora mental, que me deixava presa ali, uma leve depressão. Faltava amor próprio, conhecimento, uma rede de apoio bem estruturada e principalmente, terapia. Na época parecia tudo tão profundo, eu sentia que sabia tanto sobre tudo, mesmo fazendo tudo errado sempre, completamente sem rumo, ouvindo opiniões para achar o que mais se encaixava no que eu queria.

Eu escrevia sobre relacionamento, saudade, mal estar físico e mental (depressão), sobre percepções de rolês e shows. Recebi esse, de 2009:

Ta um calor imenso aqui, meu rosto ta pegando fogo! Meus olhos estão marejados, to prestes a derrubar umas lagrimas. Eu quero uma atenção diferente. To cansada de ser a doidinha, geminiana, inquieta, inconstante que não sabe o que quer ou que é. Quero ser alguém, com nome, personalidade e sei lá mais o que vem de bom quando se é assim. Aqui dentro um vazio, sem chão, sem vontade, talvez uma vontade expressa na necessidade de descanso, desligamento do mundo e enfim vontade sono, vontade coma. Acho que da para liberar as vontades de presença, em palavras postas pra fora na escrita, mesmo sem sentido rumo e afins, alivia a dor, a tensão. Melhor seria o não para tudo, não ver, ouvir principalmente sentir e ser. Quero um Lacuna Inc. direto da cidade dos sonhos esquecidos, quero esquecer coisas, de todos os tipos, coisas orgânicas comestíveis, amáveis indiretamente, ligadas a movimentos irracionais ou racionais, de toda e qualquer variedade de tudo. Quero nascer agora e/ou reviver o não vivido por não estar. Quem sabe não viver a partir de já. A necessidade de reações e pensamentos vindos é ridícula. Melhor não pensar, melhor não querer, melhor não compartilhar, não mostrar, questionar. Mais ridículas são as sensações quentes, de medo, frias, sem movimento. Melhor é não pensar, imaginar. Meus olhos não param o quente ta forte e o frio por dentro.

A forma de lidar com a escrita nesses 10 anos mudou demais. Hoje eu enxergo como meus ciclos funcionavam, obviamente a maturidade deixou tudo mais claro, como eu deveria ter agido, como eu deveria ter me posicionado, o que eu deveria ter feito, lido, consumido, aproveitado. Eu não vim muito longe, mas tenho que agradecer ela por ter tido coragem de ir aprendendo devagar e me trazido até aqui.

Evoluir é maravilhoso.

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Mikaela.

Gosto de escrever umas paradas e umas receitas as vezes.